”O petróleo é nosso.”
FOTO: Blog Esmael
Alguns períodos da nossa história foram marcados por expressivos bordões.
O mais antigo pertence a Pero Vaz de Caminha: ”O melhor fruto que se pode tirar desta terra me parece que será salvar essa Gente.”.
Depois, já no Império, Dom Pedro I sentenciou: ”Diga ao Povo que eu fico.”
Com a queda do Império, Deodoro comandou: ”Pois diga ao Povo que a República está feita.”
Decorrido o tempo de amadurecimento de nossa consciência política, o Povo sai às ruas e grita: ”O petróleo é nosso.”
O suicídio do presidente Getúlio Vargas que afirma em sua carta testamento: ”Quis criar liberdade nacional na potencialização de nossas riquezas através da Petrobrás…”
Em sequência, outro Presidente afirma ao Povo: ”A democracia que eles querem é a Democracia para liquidar com a Petrobrás…”
Nesse mesmo momento histórico da derrubada do presidente Jango, a indignação leva o Senador Tancredo Neves a dirigir-se a “Eles” com o famoso bordão: ”CANALHAS, CANALHAS, CANALHAS.” Usa as palavras no plural para abrigar mais gente, incluindo aqueles que, no futuro, vão manchar sua biografia.
Ao longo desse tempo, no tecido social do nosso País, destaca-se a busca de afirmação do povo pelo saber, pela defesa da liberdade, pelo combate frontal aos que mentem, trapaceiam, vendem falsas convicções e manipulam os fatos e, serviçais, entregam as riquezas de nossa terra aos estrangeiros.
A Petrobrás é um dos poucos símbolos históricos de nossa gente, pois representa o conhecimento tecnológico de um povo que transforma esse saber em riqueza para a Nação.
Por essa razão, e somente por meio de mentiras e de manipulação de dados contábeis, e escondendo as verdadeiras razões, vindas das multinacionais, alguns dirigentes da Petrobrás, indivíduos desqualificados do atual governo, com apoio da mídia vendida e dos “Canalhas”, pretendem liquidar essa afirmação de um Povo.
Esse ferrenho combate à Petrobras, à sua estrutura industrial integrada, efetivando a venda de rentáveis ativos, sob varias alegações, que não resistiram à análise honesta de seus números, tem sua origem ostensiva na orientação ideológica publicada pelo Globo em 21/01/1992 pelo representante da Shell, Sr. Robert Brougton, que “condicionava os investimentos da Shell no Brasil à extinção do monopólio e que os preços do petróleo e dos combustíveis fossem “alinhados com os internacionais” e as “companhias estrangeiras tivessem” algumas facilidades para começarem a atuar em um mercado longamente monopolizado.”
Essa orientação, que vem sendo enfrentada, durante os últimos 26 anos de lutas pela defesa da Petrobrás, finalmente está sendo cumprida pelos “Parentes” que estão na direção da empresa. Mereceu á época contundente repúdio do senador Josaphat Marinho, em discurso no Senado Federal, em 28.9.1993.
Nesse contexto histórico, a voz do senador era acompanhada por vários estamentos da sociedade civil onde se destacavam o Clube de Engenharia, o Modecon, a Aepet, a Une e vários outros segmentos políticos conscientes da importância desta luta travada.
A natureza da luta atual é a mesma contra os antigos propósitos, sugeridos pelo representante da Shell. A diferença é que são os próprios gestores da empresa que promovem o seu enfraquecimento, cenário impensável à época de sua construção e de sua afirmação como pioneira na exploração de petróleo em águas profundas, quando apenas os seus detratores eram externos.
As sementes lançadas transformaram aquela estrutura inicial de empresa importadora de petróleo bruto, na quarta maior empresa de petróleo, com reservas estimadas em 100 bilhões de barris, e a nona empresa a nível mundial, sob o critério de faturamento e investimentos.
Contra a séria ameaça atual, em 05/06/2018, um sinal de alerta foi lançado pelo Clube de Engenharia e pela Aepet ao promoverem um debate sobre o “Mito da Petrobrás Quebrada”, denunciando o desmonte da empresa com a venda de ativos rentáveis, com a perda proposital de mercado para as importadoras de derivados, por empresas multinacionais, pela fixação dos preços internos com base em parâmetros do mercado externo, por provocar deliberadamente a ociosidade no parque de refino em torno de 30% e sujeitar-se a ser exportadora de petróleo bruto no ritmo imposto pelas controladoras do mercado internacional.
O presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, denunciou a farsa com que ”os gestores conduzem a empresa e indicou consequências nefastas da política que vem sendo implementada, para fazer com que ela deixe de cumprir o seu histórico papel”.
O Dr. Claudio Oliveira, economista aposentado da Petrobrás, que vem realizando inestimável serviço à verdade dos números dos balanços da empresa, em seus inúmeros artigos, demonstrando a confortável posição financeira e indicando a desnecessidade da venda dos ativos rentáveis, para amortização acelerada da divida. Em seu pronunciamento denuncia as mentiras propaladas pelos jornalistas Carlos Alberto Sardenberg e Miriam Leitão em seus meios de comunicação: ambos criaram “a mãe das mentiras”: “a Petrobrás está quebrada”, ”o Tesouro deveria aportar recursos para evitar a sua falência”, ”o pré-sal não existe, não temos tecnologia, precisamos das multinacionais do petróleo, etc.”A divulgação dessas falsas informações, de forma sistemática em poderosos meios de comunicação, permitia à Direção da empresa conduzir, com aplauso da mídia, o seu desmonte.
Como a mentira passou a ser um envelope para enviar notícias falsas, seja para o público externo, seja para os funcionários, o diretor de Estratégia, Nelson Silva, em comunicado aos funcionários, para justificar a privatização de ativos, indica que a Petrobrás paga US$ 7 bilhões de juros, enquanto as outras grandes companhias pagam cerca de US$2 bilhões.
Nessa mensagem, ele omite propositadamente a divida da Shell de US$ 92,5 bilhões e o pagamento de juros de cerca de Us$ 5 bilhões. Números próximos dos da Petrobrás, sem que a Shell tenha que vender seus ativas para pagar a divida. É com a qualidade moral dessas pessoas que as mentiras ganham volume.
Omitir propositadamente equivale a Mentir.
A respeitável jornalista Hildegard Angel, em 10/06/2018, em sua coluna no JB, escreveu que a Miriam Leitão e o Carlos Alberto Sardenberg deveriam envergonhar-se do papel desempenhado e sair à rua de óculos escuros e golas levantadas para não serem reconhecidos.
O presidente da Aepet, Felipe Coutinho, em consistente estudo sobre a política de preços da Petrobrás, demonstra o caráter proposital de conduzi-la em conformidade com parâmetros – preços, custos e variáveis instáveis – internacionais e, assim, afastá-la da realidade da geração de Renda do país, principalmente nos derivados de funcionamento da economia – diesel e gasolina – e de impacto social, o gás de cozinha.
Essa prática permitiu o avanço das multinacionais no mercado interno, a importação dos derivados a preços incompatíveis com os custos internos, a correspondente ociosidade das nossas refinarias e o retorno à era colonial de exportação da matéria prima, agora o petróleo do pré-sal.
A mais contundente denúncia foram as palavras do Consultor Legislativo, Paulo César Ribeiro Lima, que preconizou: a necessidade de tributar a renda das empresas petrolíferas, tributar a exportação de óleo cru e revogar o artigo primeiro da lei 13.586 que concede isenção fiscal às empresas que operam na exploração do petróleo de baixo risco e alta rentabilidade, situando-se o custo total de produção do pré-sal em torno de US$20,00.
No tocante á política de preços adotada pela atual Diretoria da Petrobrás a mesma deve ser descontinuada, por estabelecer níveis de preços no mercado interno, mesmo acima dos praticados no mercado americano e europeu e embutir uma margem de lucro de 150% no caso do óleo diesel, e geradora da crise de abastecimento que paralisou o país.
A gestão de uma empresa estatal com profunda responsabilidade social e vinculada ao desenvolvimento do país, quando conduzida como empresa privada que objetiva produzir lucros para os seus acionistas, como é o caso ainda da equipe Parente, ao repassar diariamente as variações dos preços internacionais para os preços do mercado interno, levou à redução da atividade econômica em geral e agravou a situação dos mais pobres. O gás de cozinha foi reajustado em seis meses – junho/dezembro 2017 – em 68% forçando 1.2 milhão de domicílios a retornarem á lenha e ao etanol para suas cozinhas.
Como registrado anteriormente, a orientação política e ideológica do Sr. Robert Brougton, da Shell vingou, e vamos encontrar vestígios, em 01/02/2015, no artigo do Sr. Fernando Henrique Cardoso, no jornal “El Pais”, que se adapta àquelas recomendações e afirma no seu texto “Chegou a Hora”:
“O governo não se deu conta de que os Estados Unidos estavam mudando a política energética…”
”O governo petista apostou no petróleo de alta profundidade, que é caro, descontinuou o etanol, pela política suicida de controle de preços da gasolina que a torna pouco competitiva …”
Na biografia do sociólogo não constará referências à “Teoria da Dependência Subserviente” que alocou mais de 30 % das ações da Petrobrás para fundos de pensão americanos, os fundos abutres, como marco de sua vaidade, e que, recentemente, com a liberalidade da gestão Parente, foram transferidos àqueles acionistas a expressiva soma de US$ 2,95 bilhões, sem questionamentos jurídicos finais e simplesmente reconhecendo que somos dependentes e subservientes.
O povo e a Petrobrás sempre constituíram referências destacadas da nossa História.
O povo ainda não conquistou um lugar digno na sociedade e a Petrobrás está ameaçada de perder o seu lugar como símbolo de nossa dignidade.
Em 1580 Montaigne escreveu nos seus Ensaios I: ”… há cem mil maneiras de exprimir o reverso da verdade e o campo de ação da mentira não comporta limites.”
* Sylvio Massa de Campos é economista e ex-diretor da Petrobrás Distribuidora
(catado no Blog do Miro)
Colaboração: José Manuel Cruz Cebola
Sintra/Portugal