Eu fico puto da vida quando dizem que eu sou filho único. Eu apenas fui o único espermatozoide que saiu do saco de meu pai, para fecundar o único óvulo que foi fecundado no útero de minha mãe e só isso.
Eu fui criado junto com os Elias, Álvaros e Marias, Lúcias, Noemias e duas tias. Não posso ser filho único, de jeito nenhum. Por que zorra no mundo, meu Deus, insistem com essa história absurda?
Na verdade tudo começou quando eu de tanto andar pendurado nas ideias, fiquei meio isolado, atordoado e de repente, percebi “aquele” alvoroço e me levantando, constatei que era uma corrida. Resolvi participar e, no meio da multidão, me piquei na correria. Foi pernas pra que te quero.
Em poucos minutos já me encontrava liderando uma estranha competição. Não sabia qual era o prêmio, nem onde ficava a linha de chegada, quando percebi que estava saindo de uma estrutura rústica para uma mais delicada, suave, matéria simples, mas aconchegante. Foi aí, então, que eu compreendi que estava entrando em outro corpo. Um corpo de mulher! E entrando pela porta da frente, é bom que se diga, para não restar dúvidas.
Em poucos segundos, vislumbrei a chegada e pra variar, eu continuava na frente e sendo perseguido de perto por uma pestinha de uma menina incompetente. Ela queria me ultrapassar a todo custo. Joguei sujo. Na primeira curva do falópio, dei-lhe um tranco, jogando-a para os intestinos e pisei na tábua.
Enfim, ultrapassei a linha de chegada. Penetrei naquele útero novinho, novinho. Zero quilômetro! Senti-me um vencedor e virando para os perdedores, gritei: “venci minha primeira competição, renca de molóides”.
Neste exato momento, recebi o prêmio. Um óvulo que fecundei e nove meses depois, nasceu uma criança maravilhosa. Um garoto lindo, vibrante, charmoso, inteligente… Um gato! E o dono do saco, onde eu tinha passado todos os meus dias de espermatozoide, ao ver aquele ser imaculado, gritou:
– Este é o meu filho, homem macho, muito macho e vai se chamar Antonio Alberto Peixoto.
Foi assim que eu nasci!