A literatura torna possível nos comunicarmos estreitando laços, extrapolando fronteiras do tempo e do espaço e unindo pessoas e, quando isso ocorre, representamos a nossa compreensão de mundo, conjunto de certezas, dúvidas, crenças, desejos e valores que compõem a nossa história, a nossa vida, o nosso ser.
Escrever é experimentar-se vivo e não há aquele que não se sinta seduzido pela ação de enunciar-se. Quando a escrita acontece é um ato “criador”, não importa se brota de um ilustre literário ou de uma pura criança em atividade escolar, não importa a cidade, estado ou país, as descobertas se tornarão ainda mais intensas se o texto nascer das mãos de um desconhecido. Escrever é comunicar-se, ser desvelado, ser descoberto. Ao texto impresso combinam-se os desejos, sonhos, realidades, dores, traumas, fantasias e imagens do seu autor e daquele que se lança na leitura.
O escritor em um ato de transcendência compõe letra por letra a sua criação, então, imagina-se lá, em outro lugar, em outro tempo e às vezes em um outro eu, exatamente onde também se encontrará o seu interlocutor – o leitor. Nesse encontro, os dois se unem em um ambiente em que a distância e o tempo já não mais existem, um universo democrático.
Felizmente na época moderna, a comunicação escrita não mais está apenas nas mãos dos doutores, está no povo e para o povo, tendo ela um papel integrador, mas também o papel de superar o abismo existente entre a arte e a vida, arte e ciência, na medida em que ela mesma é concebida como uma forma de conhecimento dessa totalidade, que é o próprio homem em suas mais variadas funções.
Cabe então ao escritor a grandeza de viver plenamente sua época e seu ambiente, pois só atinge a magnitude aquele que sentiu seu próprio tempo e que contou sua própria origem, seu próprio povo. Este é o segredo da universalidade de um Machado de Assis, Monteiro Lobato, José de Alencar, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Chiquinha Barbosa, Di Cavalcanti, Goethe, Balzac ou Cervantes.
Nessa iniciativa de registrar o cotidiano de um povo, ALBERTO PEIXOTO escreveu O ÚNICO ESPERMATOZÓIDE com respeito e entusiasmo, mas sobretudo com extremo humor, ele relata os quadros da realidade do sertão baiano, onde se desenrola a difícil realidade dos nordestinos. O texto nos revela a odisséia de um dos tantos nordestinos que discriminados e excluídos perseguem um futuro feliz.
Com humor, essa produção abre uma pequena janela para que a literatura deixe de ser apenas o “sorriso sutil da sociedade”, para ser testemunho de uma época, o desabafo de um povo, uma mensagem acessível a todos, que permitirá ao homem, independente de sua condição sócio-econômica, sentir-se junto ao seu semelhante como “igual entre iguais”, cumprindo assim a verdadeira função social da escrita – A DEMOCRATIZAÇÃO DO SABER. Somente quando todos os homens forem tratados como iguais, a expressão E FORAM FELIZES PARA SEMPRE deixará o universo fabuloso e será parte integrante na vida de todos nós.
Andréia do Vale Reis
Defensora do direito à Vida e ao Saber, Educadora, Professora da Rede Estadual de Educação, Licenciada em Letras (Português/Inglês e Literaturas), Psicopedagoga, Terapeuta Holística e Acupunturista.