O ENTERRO DA SOGRA é contos regionais, causos corriqueiros do cotidiano de quem conhece bem a convivência pacata e subdesenvolvida, dos municípios que constroem ao longo dos anos a história cultural e educativa do folclore nordestino.
O autor como contista, como contador de causos, eleva o bom humor do leitor, com sua narrativa recheada de curiosidades e episódios irreverentes…
O importante seria compreender, nem tudo que se lê está propriamente correto, de modo que a ortografia é uma só em cada dialeto, buscando no emprego da palavra a formação da mensagem, seja ela acadêmica ou matutóloga. É o poder da criação buscando espaço, sem confundir!
Não podemos afirmar tratar-se da verdadeira linguagem do povo brasileiro, mas ser parte dela sim, ser contribuição importante sim, parte dessa mesma comunicação, dessa dialética literária, que se destaca pela dicção coberta de humildade e que sem rodeios e pontos de vista, faz parte de nossa história. É como fazer do fato o acontecimento do momento, seja de que forma dita.
Derrubando barreiras e pré-conceitos, para um bom entendedor poucas palavras bastam; para quem sabe ler um pingo é letra, e o ENTERRO DA SOGRA traz tudo isso, derrubadas, entendedores e pingos.
Roberto Leal Correia
Escritor e editor,
autor de “Cárceres de Poemas”
Ed. Òmnira/Ba-2000
Falar é simples, é belo, é maravilhoso. Falar é tão natural que às vezes esquece-se que o seu produto delata as intimidades e a história do locutor. Havendo uma enorme necessidade de conhecer profundamente alguma pessoa e com total discrição, basta apenas ouvi-la. Ouvir e simplesmente ouvir. O discurso de cada locutor revela sua própria origem, seus valores morais, sua idade e sexo, seu estado emocional, seus preconceitos, sua condição intelectual e econômica, ou seja, é o maior e o mais eficaz documento de identificação.
Não existe preocupação quando são pronunciadas sentenças em uma roda de amigos, em um ambiente familiar, na feira livre, como também, em uma longa e prazerosa noite ao lado da pessoa amada. Não há máscaras, não é exigido ter cautela. Até mesmo em um ambiente formal ou desconhecido, a fala torna-se livre após o tempo. A aquisição da liberdade no discurso ocorre ora pela confiança, ora pela exaustão causada por prolongado período de auto-controle.
O ato de falar é leve e flexível porque as palavras faladas quase sempre não encontram ouvintes atentos ou investigadores natos, sendo assim, as palavras se perdem como plumas ao vento. Certamente, todo ser humano pensa antes de falar, mas a fala não deixa registro para contestação, até quando gravada, há sempre o lugar cativo para a redentora e corriqueira desculpa – EU NÃO QUIS DIZER AQUILO ou VOCÊ NÃO ENTENDEU O QUE FOI DITO. Então, fala-se com mais liberdade, com menor medo, pouco receio e ás vezes sem pudor.
Ao escrever o cuidado é total. Todo escritor sabe que seus registros permanecem acessíveis por um longo tempo e que para a palavra escrita não há leveza, os grafemas estão presos, ou melhor, fixados no papel. A escrita é a maquiagem da fala, é a máscara, é a censura, é o zelo até mesmo do desmazelo. O papel é documento real, palpável e incontestável, exceto na falsificação, onde somente outro papel escrito comprova a farsa.
Para escrever literalmente o discurso falado, com seus erros e confidências, deve-se ter coragem, ser um herói ou ainda um mártir. Imagine a valentia de um escritor que revela os desleixos, as diferenças sociais e intelectuais de um povo. Convictamente é um escritor audacioso e destemido. No entanto, alguns poderão chamá-lo de louco ou chulo. A verdade é que ele registra o discurso concreto e não o idealizado.
Escrever o cotidiano de um povo apresentando o seu discurso oral é imprimir no papel a realidade, é brincar com os fonemas expressos em grafemas, é elucidar a singularidade de ser o que se é. Registrar as especificidades lingüísticas de um grupo social é legitimar o seu direito de livre expressão, jamais será a depreciação da norma culta, será acima de tudo assegurar a função comunicativa de toda e qualquer língua e apresentar os usos e apropriação da mesma. É ainda, uma forma de inclusão social e lingüística, é democratizar o ato de comunicação.
Ao escrever os “causos” baianos, o escritor Antonio Alberto Peixoto presenteia os lingüistas com um material significativo para o estudo e compreensão do contínuo movimento da Língua Portuguesa, como também fornece aos historiadores e sociólogos alguns valores culturais do interior da Bahia. Antonio Alberto é livre de preconceitos, é apaixonado pelas narrativas peculiares do sertão e é além de tudo um herói. Um herói porque rompeu as fronteiras do intelectualismo, venceu o gigantesco medo de escrever e eternizou a fala de sua gente.
Andréia do Vale Reis
Psicopedagoga