Saúde desigual no Brasil: 8,8 leitos de UTI setor público por cem mil habitantes e 32,8 no setor privado/ Por Sérgio Jones*

A Saúde brasileira perece na UTI do descaso

Em excelente e esclarecedora entrevista concedida ao Instituto Humanistas Unisinos, pelo conceituado médico sanitarista Gonçalo Vecina Neto. Ele aponta e esclarece a desigualdade brutal e inaceitável existente no sistema de saúde brasileiro.

Dentre várias delas, destaque para os dados sobre o acesso aos leitos de Unidade de Terapia Intensiva – UTI nos hospitais brasileiros, 8,8 leitos por cem mil habitantes no setor público e 32,8 leitos por cem mil habitantes no setor privado, o que segundo ele é um “despautério” e indicam o óbvio: “o acesso desigual ao sistema de saúde que considera como fruto da desigualdade estrutural da sociedade brasileira”.

O médico sanitarista defende a necessidade, por parte do poder público, de enfrentar os “problemas clássicos” para garantir a equidade de acesso ao sistema, e observa que é preciso “diminuir a desigualdade dentro da sociedade brasileira” e “criar um programa de renda mínima”. O que permitirá um país mais civilizado.

Na sequência defende ele, que se promova uma discussão franca e mais aberta sobre o sistema de saúde e propõe a criação do que denomina como manchas populacionais de acesso aos hospitais. “Precisamos repensar a questão da descentralização. A municipalização autárquica tem que retroceder para um modelo que pense as grandes manchas populacionais do país. Esse é o nosso grande desafio”, afirma.

Defende a necessidade de se criar um novo sistema de Vigilância, tendo em vista a de surgimento de novas pandemias no futuro. “ Temos que repensar a rede Lacen e também a nossa capacidade de fazer frente às necessidades de ter um grupo seleto de laboratórios que pensem nas ciências ômicas: genômica, metabolômica e proteômica, que serão e estão sendo fundamentais para identificar ações de novos agentes. Além disso, temos que ter um laboratório P4, e temos que voltar a formar epidemiologistas de campo”.

Em suas variadas abordagens sobre o modelo do sistema de saúde brasileiro faz uma incursão sobre a existência de novas faculdades de medicina e de seu impacto que poderão gerar no setor, nos próximos anos. “A expectativa com as 350 faculdades criadas é que a partir de 2026, se todas estiverem funcionando até lá, tenhamos um médico para cada 300 habitantes. Será suficiente? Boa pergunta. Os médicos serão adequados? Com certeza não; serão malformados e aí as secretarias estaduais e municipais vão ter que reformar esses médicos”.

Ele acredita que dentre pouco tempo vai ter início ao fechamento de algumas dessas faculdades existentes devido aos altos custos para o alunado, que não estão conseguindo pagar a exorbitância que são as mensalidades cobradas. O leitor caso queira se aprofundar sobre o tema deve se dirigir ao site Instituto Humanistas Unisinos. Onde consta uma entrevista especial com Gonçalo Vecina Neto, tendo por título: “Temos que colocar a saúde no eixo civilizatório”.

Sérgio Jones, jornalista (sergiojones@live.com)

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