Não há desgraça que venha só, diz a voz do povo/Por José Manuel Cruz Cebola*

Infelizmente, no Brasil, as tragédias acumulam-se. É uma atrás da outra.

O fogo da irresponsabilidade consumiu o Museu
FOTO: arquivos Google

E tudo começou com o golpe que depôs uma presidente legitimamente eleita (calma! Não comecem já a argumentar que o incêndio nada tem a ver com política, pois tem e muito),

E desde então, o Brasil tem vindo a ser assolado por tragédias de todas as dimensões. Em 2015, foi o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo que foi pasto de chamas, tendo sido destruído quase todo o seu acervo. Na semana passada, foi a vez do Gabinete Português de Leitura, no centro de Recife. Felizmente o acervo não foi atingido.

Claro que estou falando apenas do que considero a espinha dorsal de um país, de um povo: O seu Patrimônio Histórico e Cultural.

É certo que os incêndios podem ocorrer em qualquer lugar. Em Portugal, há 30 anos, um fogo devorou um prédio inteiro na zona do chiado, onde funcionavam os grandes armazéns Grandélla! Mas foi há 30 anos e nunca mais nenhum edifício público, sobretudo com Patrimônio Histórico e Cultural a preservar, foi atingido. Por quê? Porque se tem investido na prevenção.

E no Brasil? No Brasil, temos assistido ao abandono progressivo de tudo o que tem a ver com cultura e patrimônio.

O Museu Nacional do Rio de Janeiro, que é (era) superintendido pelo IBRAN – Instituto Brasileiro de Museus (cujo diretor se demitira dois dias antes…) e vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a mais antiga instituição científica do Brasil, está sob a alçada dos governos local e federal.

Acontece que, quer um, quer outro, há algum tempo que deixaram de investir neste edifício. E com um agravante: a autarquia nem sequer cuidou dos hidrantes no exterior do Museu, o que levou a que, quando os bombeiros chegaram, estes não debitassem água.

Agora, para finalizar, vamos chamar os bois pelos nomes…

Quem é o governador do Estado do Rio de Janeiro? Luiz Fernando Pezão. De que partido é este governador? Do MDB. Este governador tem investido muito no seu Estado? Não! Já nem sequer falando na educação e na cultura, que isso está fora do âmbito dos interesses do seu partido. Vamos falar da saúde. Pezão, em 2016, desinvestiu mais de R$ 2 bilhões nesta área. O Rio de Janeiro foi o Estado que investiu o menor percentual na saúde em todo o país.

Baixemos de escalão e vamos-nos focar na prefeitura. Quem é o prefeito da cidade do Rio de Janeiro? Marcelo Crivella. De que partido é este prefeito? Do PRB. Este prefeito tem investido muito na sua cidade? Não!

Ora bem… Este Crivella é o tal a quem o TCM – Tribunal de Contas dos Municípios apontou irregularidades nas viagens ao exterior feitas por ele. O mesmo contra quem correm três pedidos de impugnação (Impeachment) por ele ter cometido crime de responsabilidade ao oferecer medidas que favoreceriam integrantes da seita religiosa Universal.

Resumindo e concluindo: para estes figurões, o que menos importa são a saúde, a educação e a cultura.

Museu Nacional pede colaboração para resgatar acervo destruído pelo fogo
FOTO: arquivos Google

O que lhe interessa a “Luzia”, o mais antigo fóssil humano encontrado no Brasil, com cerca de 11.000 anos? O que lhe interessa o “MaxakalisaurusTopal”, o primeiro dinossauro de grande porte a ser montado no Brasil? O que lhes interessa o caixão de Sha Amun Em Su, parte da coleção Egípcia maior e mais antiga do continente Americano? O que lhes interessa o Trono de Daomé, a coleção de arqueologia clássica (750 peças das Civilizações Grega, Romana e Etrusca) ou a coleção de 1.800 artefactos das Civilizações Ameríndias?

Mas, quanto a mim, o mais gravoso foi o desaparecimento do mais importante documento sobre a chegada dos portugueses ao Brasil: a Carta de Pero Vaz de Caminha, o Escrivão da frota de Pedro Alvares Cabral.

Onde ele narra ao Rei D. Manuel I a viagem das naus portuguesas desde a saída de Lisboa até avistarem o Monte Pascoal, na Bahia, em 22 de abril de 1500.

Este espólio também nos pertencia!

José Manuel Cruz Cebola – Crítico

Sintra/Portugal

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