O tão falado tema do Porto de Mariel em Cuba/Por José Manuel Cruz Cebola*

Porto de Mariel – Cuba

Muito se tem escrito sobre este tema, embora a maior parte do que se lê por aí tenha origem nos detractores de Lula e de Dilma e inimigos do PT. Em sua deliberada má fé, Aécio Neves e alguns manipuladores da direita costumavam dizer na maior cara de pau que o governo brasileiro estaria projectando construir um porto para Cuba só para ajudar o governo cubano, como se estivesse desviando dinheiro para a ilha que derrotou o império com a sua revolução invicta.

Podemos historiar de uma forma muito concisa o que se passou. Para além daquele conhecimento sobre a matéria que eu já tinha adquirido graças a bastante investigação, tive o cuidado de ler parte da documentação dos acordos na versão castelhana. Resumindo: ao tempo – 2009 e 2010 — os últimos dois anos do governo Lula — e em 2011, 2012 e 2013 — no primeiro mandato de Dilma e até esta ter sido afastada por força do ‘impeachment’, o BNDES brasileiro assinou contratos de financiamento ao empreendimento no valor de US$ 682 milhões. Para quem não sabe, os projetos de financiamento do BNDES no exterior existem para abrir mercados.

No caso concreto do porto de Mariel, as esferas políticas já tinham conhecimento da abertura por parte do então presidente norte-americano em relação a Cuba. Durante um encontro da Conferência Ministerial da Organização do Comercio (OMC), em Genebra, Suiça, em Novembro de 2009, o ministro cubano Malmierca relatou ao ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que a administração Obama teria conseguido restabelecer o nível das relações do governo de Clinton, prejudicadas pelo seu antecessor George W. Bush, considerando que Obama “podría ser más ambicioso y, en un primer momento, autorizar los viajes de turismo a la isla de los estadounidenses”, disse Malmierca.

O governo brasileiro viu aí uma oportunidade de investimento. É importante que se saiba uma coisa: o BNDES não pode repassar um centavo para governos estrangeiros: quem a ele recorre é a empresa nacional que vai ganhar em dólares em obras por dezenas de países. Entendido? Repito: não houve empréstimo ao governo cubano e sim a uma empresa brasileira, no caso, o Grupo Odebrecht. O BNDES libera recursos apenas para empresas brasileiras que tenham sido encarregadas de realizar um serviço no exterior.

A relação do BNDES é com a empresa nacional, para gerar empregos no Brasil. Ao tempo, num mercado muito disputado, o Brasil era o oitavo maior exportador de serviços de engenharia do mundo. Do mundo, entenderam? A China desembolsou entre 2008 e 2012 um total de US$ 45,2 bilhões; os Estados Unidos, 18,6 bilhões; a Alemanha, US$ 15,6; e a França, US$ 14,6 bilhões, enquanto o Brasil financiou US$ 2,24 bilhões, ficando atrás ainda da Índia, do Japão e da Inglaterra. Começam agora a perceber?

Há que ponderar que em 2013, a Odebrecht Infraestrutura facturou US$ 8 bilhões no estrangeiro (exterior)! O BNDES não investiu em Mariel. O BNDES financiou as exportações de cerca de 400 empresas brasileiras, lideradas pela Odebrecht, no valor equivalente a 70% do projeto. Se o porto foi de grande importância para o socialismo cubano, foi o capitalismo brasileiro que mais ganhou até agora.

O porto de Cuba não impediu a construção de nenhum projeto no Brasil. Aliás, até ajudou.

Por meio da exportação de serviços, como a de Mariel, a Odebrecht capacitou-se e gerou resultados que aplicou no Brasil, como fez no terminal de contentores da Embraport, em Santos. É o maior do Brasil e foi construído pela Odebrecht, simultaneamente a Mariel, com investimento próprio de R$ 1,8 bilhão.

Mauro Hueb, director-superintendente em Cuba da Odebrecht, destacou numa entrevista ao tempo: “É importante ressaltar que US$ 800 milhões foram gastos integralmente no Brasil para financiar exportação de bens e serviços brasileiros para construção do porto e, como consequência disso, gerando algo em torno de 156 mil empregos diretos, indiretos e induzidos, quando se analisa que a partir de cada US$ 100 milhões de bens e serviços exportados do Brasil, por empresas brasileiras, geram-se algo em torno de 19,2 mil empregos diretos, indiretos e induzidos”. Alguém discorda? Se for o caso, que me ilumine.

A bem da verdade, os primeiros negócios dessa natureza com Cuba foram iniciados ainda no governo Fernando Henrique, como ressaltou o diretor do departamento de relações internacionais e comércio exterior da Fiesp, Thomaz Zanotto, em entrevista a Record News em 31 de janeiro de 2014.

Eu escrevi que queria ser conciso, mas já me estou a ‘esticar’ (perdoem o termo). Muito mais haveria que escrever, mas deixo aqui o essencial.
Correu tudo bem? Claro que não correu. Houve falhas de percurso. Bastantes. O que não é de estranhar, sobretudo se não nos esquecermos que no Brasil a corrupção é endémica.

Quanto a mim, o saldo foi muito positivo e esta empreitada foi mais um salto da Odebrecht para se tornar na maior construtora de obras públicas em todo o mundo. A maior! Em todo o mundo! Entenderam?E tudo o vento levou…

José Manuel Cruz Cebola – Critico

Sintra-Portugal

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